PALAVRAS DE SEDA

Escrever passou a ser necessidade diária, como a respiração mantém o corpo vivo, o ato de escrever mantém minha alma solta para trafegar pelo mundo dos sonhos.
Ao me deixar levar pelas palavras visualizei novo horizonte e criei asas. Voei.
Em vinte anos escrevi dezenove livros em vários estilos: conto, crônica, poesia, romance e biografias.
Alguns de meus livros biográficos foram livremente inspirados para o cinema e TV. Ganharam prêmios.
O importante é continuar escrevendo, registrando histórias e estórias para que a memória não se perca no mundo digital.
De tanto escrever biografias resolvi deixar o registrado meu ensaio biográfico cujo viés é meu Anjo da Guarda. Pode parecer um pouco estranho, porém é bem real. Por isso, acesse também o meu blog "Os Anjos não envelhecem", eu disponibilizei meu livro na íntegra, onde constam fotografias e documentos. O livro físico está esgotado.
Viaje através das palavras. Bem-vindo (a).

















































































































quarta-feira, 28 de julho de 2010

IGUARIAS DE LUCAPA


Conheço pessoas que não comem cebola, outros que não comem quiabo, nem jiló ou berinjela. Tenho um amigo que me disse ao lhe servir repolho – isso é comida para porcos, eu não como repolho. Tudo bem não comer sushi, sashimi, scargot ou caviar, pois são iguarias caras, que fogem ao nosso paladar e a nossa cozinha cotidiana. Mas, não comer o nosso arroz feijão bem temperadinho com alho e cebola é coisa de gente que tem um amplo cardápio, e dispensa nossa culinária caipira.
Em Goiás aprendi a comer pequi, jiló, guariroba e mutamba. Não sou de rejeitar comida, acho que tenho de, pelo menos, experimentar. Eu só tenho uma restrição: abacaxi. Não é porque não gosto, ao contrário, o cheiro é delicioso, mas o paladar... vixi... me condena – ou melhor – me mata. A glote fecha num instante e tenho de tomar antialérgico (que sempre trago na bolsa) e, na maioria das vezes, vou parar no hospital. Por isso sempre brinco com os amigos que um dia eu vou morrer de uma overdose de abacaxi, vou parar um daqueles caminhões que vende a fruta e vou comprar uns 10 e comer tudo. Têm noites que sonho com abacaxi, de tanto que gosto do cheiro dele.


Existem lugares, onde não há muita escolha para o almoço. Sim, vamos ficar só no almoço que a janta já é artigo de luxo nesses lugares. Comem sempre mandioca. Mandioca ralada, espremida, assada, cozida, frita e tudo que se pode fazer com a mandioca. Mas, há uma época do ano que aparece uma iguaria – o macosso. As crianças saem pelas sarobas atrás dessa comida deliciosa. Levam um prato e uma tigela. Vão catando em cada moita a larva do inseto, enchem os pratos, depois os colocam na tigela e espremem. Espremem até que aquele suco verde saia inteiro. Depois comem o macosso. É uma festa, um almoço e tanto. Ficam felizes e satisfeitos com esse alimento. Esses africanos sabem a época certa e a maneira de encontrar a larva. Saem em grupo à procura da iguaria que, para eles, é um prazer e tanto. Não têm muita escolha. O almoço não tem tempero, sem a cebola, e nem mesmo o alho. Deixam para nós a lição de que temos muitas escolhas para nossa alimentação. As crianças lucapenses nem sonham com arroz e feijão... mas, sonham com um bom prato de macosso.



Saber comer é não desperdiçar. Ser luxento com a comida é ter muita escolha. Já vi crianças brasileiras fazerem cara de nojo diante de um prato de sopa, mas nunca vi uma criança africana ficar enojada ao comer macosso. Tudo é questão de paladar? Não!... é questão de sobrevivência.


Lembro-me que uma amiga, certo dia, num pomar, ao comer o pedaço de uma goiaba olhou o bicho, ou melhor – a metade de uma larva, se mexendo dentro da goiaba, olhou para mim e disse: ‘isso não mata, não!... isso engorda’. Na época não acreditei, nem provei a goiaba, fui direto para as tangerinas. Hoje comeria uma goiaba inteira, sem olhar se tem bicho ou não; agora sei que engorda mesmo. Se não acredita... faça o teste.

Rita Elisa Seda
Artigo escrito para o jornal Visão Vale em agosto de 2009

4 comentários:

Silvinh@ disse...

Oi, Rita Elisa!!!
Diante deste artigo, acredito ser luxenta demais com minha alimentação. Você disse que aprendeu a comer pequi, jiló, guariroba e mutamba. Sabe que sou filha de mineiros, meus pais vieram de Lima Duarte. Mas até hoje não aprendi a comer essas iguarias, não. Angu com couve, tutu de feijão, torresmo....hummmm....que delícia, tudo de bom! Mas quiabo, jiló, guariroba....e outras iguarias mineiras, não dou conta...rsrsrsr...Agora fico pensando se eu tivesse que comer um prato de macosso sem cebola e alho como as crianças lucapenses!!! Diante da diversidade que temos na nossa alimentação, podemos escolher, mas infelizmente, nem todos tem o mesmo privilégio que nós.Que pena!!! Até quando haverá essa tal desiguladade social? Enquanto sobra na mesa de poucos, falta na mesa de muitos... Obrigada Senhor, por ainda podermos escolher nossos alimentos!!! Parbéns Rita Elisa!!!

Rita Elisa Seda disse...

Querida Silvinha, nossa culinária nos conduz a isso, temos uma variedade incrível de alimentos, nosso país é MARAVILHOSO, aqui, tudo que plantamos nasce. Em compensação podemos comer 'ou isso ou aquilo' como dizia Cecília Meireles, com as bençãos de uma terra fértil. Veja que as crianças lucapenses são gordas e felizes, e gostam do macosso. O dia que você vier aqui em casa farei um arroz com pequi que, aposto, vai comer até roer o caroço. Beijos, felicidades e a paz!

Silvinh@ disse...

Oi, Rita Elisa!!!!
Então....está combinado.
Quando eu for na sua casa não poderá faltar arroz com pequi.
Prometo que vou experimentar...rsrs
Fique com Deus!!!!
Super beijo!!!!

Rita Elisa Seda disse...

Ok, Silvinha... espero sua visita. Beijos.